top of page

A influência das expectativas dos pais no desenvolvimento das crianças

Hoje trazemos, novamente, um post fora do habitual. Em seguimento das últimas publicações, convidamos-vos a ler o discurso da nossa terceira colaboradora a ser convidada para o programa televisivo Ted Talk.


"Quantas de vocês já mentiram aos vossos pais? Quantas pessoas costumam mentir aos pais? E quantos daqui escondem coisas dos vossos pais? Como podem ver, não são os únicos, são quase todos. A mentira aos pais é extremamente comum em crianças e adolescentes, e muitas permanecem a vida inteira.  

A maioria de nós, quando faz alguma coisa mal, tem sempre medo que os pais descubram. Parece-me que é algo evidente para todos, mas porque será que isto acontece? Claro que, como amamos os nossos pais, queremos que eles pensem sempre o melhor de nós e não os queremos desiludir. Mas, o que eu venho falar aqui hoje é que existe algo mais profundo por detrás deste medo de desapontar, desta necessidade de agradar. 

Após bastante refletir, cheguei à conclusão de que este fenómeno resulta das expectativas que os nossos pais têm sobre nós e da pressão a que nos sujeitam para que correspondamos às mesmas. 

Evidentemente que o nosso crescimento está fortemente condicionado pela educação que recebemos, e a necessidade de algumas repreensões por parte dos pais para o crescimento das crianças é indiscutível. No entanto, parece ter-se tornado recorrente na nossa sociedade a exigência de perfeição. Isto traduz-se numa visível obsessão das crianças e adolescentes para terem tudo sob controlo, desde serem os melhores alunos, os mais responsáveis, de terem mais amigos, mais seguidores e gostos nas redes sociais, os melhores corpos e os mais giros, sendo que o mínimo fator que saia dos eixos é causa de extrema ansiedade. 

Deste modo, será que faz sentido o modo educativo que se generalizou nas civilizações atuais?

Para concretizar melhor, vou dar alguns exemplos. Para começar, o típico incidente: uma criança pequena pinta a parede. A reação imediata da maioria dos pais seria zangar-se e apenas dizer que não se pode pintar nas paredes, e até mesmo pôr de castigo. Isto resulta em sentimentos negativos para a criança, que sente que os pais estão chateados e não percebe porquê. Uma melhor abordagem seria, por exemplo, explicar o porquê de não se poder pintar nas paredes e pedir ajuda à criança a limpar, para que ela se aperceba da dificuldade de limpar e não torne a pintar. 

Em segundo lugar, outro exemplo é um aluno que tem recorrentemente más notas. A reação mais comum da maioria dos pais é zangar-se e castigar. Isto é negativo por vários motivos: em primeiro lugar, normalmente o aluno por si só já fica desmotivado, e o facto de os pais se mostrarem desiludidos puxa ainda mais para baixo. É claro que quando uma má nota decorre da irresponsabilidade do aluno, é preciso tomar alguma medida para que essa irresponsabilidade desapareça. Mas muitas vezes, o aluno apenas tem mesmo dificuldade em aprender e compreender as matérias, e os pais devem aceitar isso. Evidentemente que há sempre formas de melhorar, mas normalmente a solução milagrosa dos pais é uma restrição total da vida social e um estudo excessivo que muitas vezes não dá em nada, devido à pressão psicológica a que os alunos ficam sujeitos, e leva muitas vezes a casos de ansiedade. Mais uma vez, os pais têm esta reação porque sentem a necessidade de que os filhos sejam tão bons ou melhores que eles, que arranjem um trabalho importante, que ganhem bom dinheiro e sejam bem vistos pela sociedade, mas há casos em que têm de aceitar que as prioridades do filho não sejam as mesmas que as suas. 

Em terceiro lugar, todos sabemos que no nosso meio estão estabelecidos padrões de beleza extremamente elevados. As redes sociais e os grupos de amigos contribuem em grande parte para isso. Uma pessoa que não é fisicamente perfeita está a falhar na vida, é gorda porque não faz um esforço para emagrecer, tem borbulhas porque não se trata, veste-se mal porque tem mau gosto, e todos estes são motivos de gozo e exclusão, levando a uma enorme pressão dos adolescentes para se enquadrarem nestes padrões. Quantos daqui não têm algum tipo de complexo acerca do seu corpo? Por mais giros que estejamos, somos sempre capazes de encontrar defeitos em nós próprios. O pior é que, estes padrões também estão estabelecidos nas gerações anteriores, e levam, neste caso, principalmente as mães, a fazerem comentários e exigências que aumentam a pressão para atingir estes objetivos irrealistas, sendo mais um fator agravante desta pressão tão elevada, que muitas vezes acaba em distúrbios alimentares. Comentários como “Já foste ao ginásio?”, “Não comas isso”, “devias fazer uma dieta”, ou “tens uns quilinhos a mais” são extremamente prejudiciais para alguém que já se sente mal com o seu corpo, pois confirmam, na cabeça da pessoa, que as inseguranças que tinham são verdadeiras, porque até os seus pais as vêm. 

Em quarto lugar, os pais velam sempre pela saúde dos filhos, como é natural, porque querem o melhor para eles. No entanto, há vários hábitos que predominam na adolescência que são prejudiciais à saúde, como o consumo de álcool ou de tabaco. Também nestes casos, quando os pais descobrem, porque na maioria das vezes ficam às cegas durante muito tempo, o mais recorrente são repreensões e castigos dos pais aos filhos. Mas a verdade é que normalmente estas reações dos pais não vão acabar com o consumo destas substâncias, pelo que a melhor reação seria aceitar e, na melhor das hipóteses, tentar ajudar a parar estes consumos ou reduzi-los, mas sem medidas extremas, sem proibições, porque estas geralmente produzem o efeito oposto ao pretendido em adolescentes, levando muitas vezes ao afastamento dos mesmos.

Frases como “estou desiludido” apenas contribuem para aumentar o sentimento de incumprimento do padrão de perfeição, de fraqueza por não alcançar o que quem nos trouxe ao mundo idealizou para nós. 

Para concluir, estes exemplos demonstram um pouco como as altas expectativas dos pais para os seus filhos, a exigência de perfeição, têm efeitos que podem ser muito negativos no seu desenvolvimento. Por isso, considero que os pais devem pressionar menos os filhos a crescer da forma que eles querem que os filhos cresçam, mas aprender a aceitar as suas diferenças e falhas e ensinar que é normal ter defeitos. Assim, promove-se entre pais e filhos uma relação mais saudável, mais verdadeira e mais benéfica, permitindo um desenvolvimento e crescimento mais completo. Além disso, os pais deixam de ser outro fator causador de ansiedade."


Maria d'Orey

 
 
 

Comentários


©exploring minds

bottom of page